A ideia de um novo absorvente interno sustentável para mulheres em situação de rua, desenvolvido por Rafaella de Bona, de 22 anos, estudante do terceiro ano de design de produto da Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi um dos 39 projetos vencedores do iF Design Talent Award 2019, prêmio que reconhece o talento de estudantes e recém-formados em cursos relacionados ao design de todo o mundo.
A premiação acontece duas vezes por ano e é representado no Brasil pelo Centro Brasil Design. A próxima edição será em outubro.
De todos os vencedores, a curitibana é a única brasileira a receber a premiação este ano. Ao todo foram mais de 4 mil projetos de 38 países concorrendo.
Mulheres em situação de rua no Brasil
Com o projeto, Rafaella escancara uma realidade invisível e questiona: já parou para pensar no malabarismo que as mulheres em situação de rua têm que fazer para lidar com a menstruação? Em geral, o acesso a banheiro para higiene pessoal é escasso, elas possuem apenas a roupa do corpo e nenhuma política pública ainda despertou para a necessidade da distribuição gratuita de absorventes, como é feito com camisinhas.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil não conta com dados oficiais sobre a população em situação de rua. Contudo, uma pesquisa realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social entre os anos de 2007 e 2008, apontava o país com mais de 100.000 pessoas vivendo em situação de rua no Brasil e 18% desse total é formado por mulheres.
A ideia surgiu quando a estudante decidiu se debruçar sobre algum problema relacionado ao primeiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU para desenvolver seu TCC.
“Escolhi a erradicação da pobreza e decidi focar em uma solução para Curitiba. Cruzei com a realidade dos moradores de rua. Fui estudar seus problemas e suas dificuldades. Muitas mulheres se fingem de loucas para não serem abusadas. Ou concordam em manter uma relação fixa com um único parceiro apenas para proteção”, relata a estudante. “Por falta de absorventes, a maioria utiliza retalho de tecidos, sacolas ou papel higiênico. E por ficarem muito tempo com o mesmo, acabam manchando a única roupa que elas têm.”
Produto sustentável
Para tornar o produto menos agressivo ao meio ambiente, Rafaella escolheu como matéria-prima a fibra de banana, material biodegradável que pode ser descartado. Os tamanhos variam e podem ser escolhidos e destacados pela própria usuária, segundo o fluxo menstrual de cada uma. Assim, depois é só enrolar, usar a fita de segurança para fixar o formato e colocar o item de higiene.
“A intenção final é que alguma política pública considere essa necessidade, com a distribuição em postos de saúde, por exemplo, para pessoas que não podem comprar. As mulheres não escolhem menstruar, não têm culpa”, diz.
O projeto ainda não foi oficialmente apresentado para as autoridades municipais de Curitiba. “Eles não precisam usar o meu projeto. Se despertarem para a questão, já valeu a pena”, conclui a estudante.
Veja aqui a fundamentação da estudante.
Fontes: Gazeta do Povo, Ipea, Centro Brasil Design.